A decepção
“A
decepção é sem dúvida a última desventura, pois se faz esquecimento em dádiva”.
Cultivei por todos
esses anos um dos maiores males de quem padece dentro da raiva, a ansiedade. A
ansiedade traz o medo de que as expectativas não se confirmem, traz certezas
que ainda não temos, nos corrompe em especulações sobre um futuro que não temos
a mínima ideia de como vai ser.
Seria difícil entender
a decepção sem compreender a ansiedade. Só se decepciona quem põe esperança em
algo, e quem espera sempre cai na obscuridade ansiosa.
Sempre fui dessas
pessoas que cogitam tantas possibilidades sobre o futuro, que acabo sofrendo
por antecipação, me chateando apenas por pensar que algo futuramente pudesse me
tirar do sério. Porém, quem dera fosse apenas essa loucura digna dos filmes de Stanley Kubric.
Em minha vida, se
decepcionar se tornou tão comum quanto comer, respirar, sentir sede. Talvez eu
colocasse minhas expectativas em ambitos tão altos que seria impossível de
serem compatíveis com a realidade que estava por vir, então quando o momento
tão esperado chegava, era inevitável não ficar desapontado.
Acho que esperei muito
das pessoas, muito de tudo, enquanto todo o desapontamento culminava em uma
raiva que só eu entendia, já que o que eu sentia, era convertido em algo tão
irreal quanto minha própria dor.
Se decepcionar é uma
arte que só não causa maiores prejuízos, se em completo esquecimento for
entendido como dádiva.
Enfim, se você já fez
tudo o que podia, sente e beba algo então, esqueça.
Na próxima sessão, A
Tempestade.