A Raiva
Se você
observar essa geração de auto-diagnosticação, com certeza vai ver que tem um
amigo, que se diz depressivo, bipolar ou até mesmo esquizofrênico. Muitas vezes
tudo incluso em óticas bobas sobre os dramas juvenis. Mas e a raiva? Nunca
parou para pensar que um sentimento que conhecemos tanto, pode se tornar uma
patologia, uma doença? Com base em estudos conhecidos a bastante tempo, a raiva
em excesso pode causar problemas gástricos, stress e
quadros de dificuldades de relacionamentos. Então você deve se perguntar, quem
é ele para nos diagnosticar?
Não sou médico, psicólogo ou cartomante. Porém, baseado em experiências vividas e com conversas com profissionais da área, como terapeutas, fui reconhecido como alguém que carrega uma raiva excessiva.
Não sou médico, psicólogo ou cartomante. Porém, baseado em experiências vividas e com conversas com profissionais da área, como terapeutas, fui reconhecido como alguém que carrega uma raiva excessiva.
Sente
ansiedade, medo, insegurança? Bem vindo a mais sedutora desventura, a raiva.
Sedutora? Sim! Quem nunca se sentiu aliviado depois de desabafar, de explodir,
gritar, chorar de raiva?
Segundo o
dicionário, raiva se define em: furor, ódio, irritação. Quem dera o
ódio fosse a maior das preocupações.
É 1996, e eu
estava cercado de garotos mal educados, com seus choros ensurdecedores, que
mais pareciam animais disputando território. Angustiados, buscavam alento nos
gritos e súplicas aos pais para que os permitissem voltar para a casa. A professora
foi até minha mãe e disse, "ele não é como as outras crianças, se adaptou
rápido, e fica chateado com o barulho". Quem dera fosse só o
barulho...
1999 foi um
ano interessante. Naquele momento ela viria pela primeira vez, a minha maior
prisão, minha casa, meu inferno, a raiva. Nunca fui o cara popular, mas
conhecia quem era, não era odiado, nem exaltado, passava despercebido em meio
as bobagens escolares.
Era um
corredor estreito e que me lembrava coisas ruins, mesmo que nada tivesse
acontecido lá. Corríamos para fugir de uns valentões (que eu tinha provocado
mais cedo), eu corria e meu amigo vinha logo atrás. Uma angustia me veio, como
se eu tivesse que tomar uma grande decisão, então me virei, empurrei ele, e dei
um soco tão rápido que nem mesmo eu sei como fiz aquilo. Escola é escola, bati
em alguém sem motivo nenhum, diretoria, uma breve conversa e um pedido de
proteção para meus colegas mais fortes durante algumas semanas. Ela tinha se
manifestado pela primeira vez e eu nem mesmo tinha entendido a razão.
Hoje depois de
tanto tempo, ainda sinto a mesma raiva, a mesma vontade de destruir, aquela
raiva que nos deixa de sangue quente, de cabeça vazia, de corpo inquieto,
aquela raiva que surge da vontade de ter raiva. Porém, talvez não fosse justo
explodir, enquanto tudo ao seu redor continuaria a te enfurecer por toda a sua
vida.
Inicia-se uma
contagem, onde hoje é apenas o quarto dia sem acidentes.
Na Sessão 3 -
A decepção
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