quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sessão 2 - A Raiva

A Raiva

Se você observar essa geração de auto-diagnosticação, com certeza vai ver que tem um amigo, que se diz depressivo, bipolar ou até mesmo esquizofrênico. Muitas vezes tudo incluso em óticas bobas sobre os dramas juvenis. Mas e a raiva? Nunca parou para pensar que um sentimento que conhecemos tanto, pode se tornar uma patologia, uma doença? Com base em estudos conhecidos a bastante tempo, a raiva em excesso  pode causar problemas gástricos, stress e quadros de dificuldades de relacionamentos. Então você deve se perguntar, quem é ele para nos diagnosticar?
Não sou médico, psicólogo ou cartomante. Porém, baseado em experiências vividas e com conversas com profissionais da área, como terapeutas, fui reconhecido como alguém que carrega uma raiva excessiva.


Sente ansiedade, medo, insegurança? Bem vindo a mais sedutora desventura, a raiva. Sedutora? Sim! Quem nunca se sentiu aliviado depois de desabafar, de explodir, gritar, chorar de raiva?

Segundo o dicionário, raiva se define em: furor, ódio, irritação. Quem dera o ódio fosse a maior das preocupações.

É 1996, e eu estava cercado de garotos mal educados, com seus choros ensurdecedores, que mais pareciam animais disputando território. Angustiados, buscavam alento nos gritos e súplicas aos pais para que os permitissem voltar para a casa. A professora foi até minha mãe e disse, "ele não é como as outras crianças, se adaptou rápido, e  fica chateado com o barulho". Quem dera fosse só o barulho...

1999 foi um ano interessante. Naquele momento ela viria pela primeira vez, a minha maior prisão, minha casa, meu inferno, a raiva. Nunca fui o cara popular, mas conhecia quem era, não era odiado, nem exaltado, passava despercebido em meio as bobagens escolares. 

Era um corredor estreito e que me lembrava coisas ruins, mesmo que nada tivesse acontecido lá. Corríamos para fugir de uns valentões (que eu tinha provocado mais cedo), eu corria e meu amigo vinha logo atrás. Uma angustia me veio, como se eu tivesse que tomar uma grande decisão, então me virei, empurrei ele, e dei um soco tão rápido que nem mesmo eu sei como fiz aquilo. Escola é escola, bati em alguém sem motivo nenhum, diretoria, uma breve conversa e um pedido de proteção para meus colegas mais fortes durante algumas semanas. Ela tinha se manifestado pela primeira vez e eu nem mesmo tinha entendido a razão.

Hoje depois de tanto tempo, ainda sinto a mesma raiva, a mesma vontade de destruir, aquela raiva que nos deixa de sangue quente, de cabeça vazia, de corpo inquieto, aquela raiva que surge da vontade de ter raiva. Porém, talvez não fosse justo explodir, enquanto tudo ao seu redor continuaria a te enfurecer por toda a sua vida. 

Inicia-se uma contagem, onde hoje é apenas o quarto dia sem acidentes.

Na Sessão 3 - A decepção

Nenhum comentário:

Postar um comentário